Rapaz de 13 anos responsável por sete fogos estava sinalizado pela proteção
de menores
Tinha 13 anos no verão passado e estava zangado com o
mundo desde a morte do pai. Por causa disso e, também, por se sentir revoltado
com um vizinho que ameaçou a mãe e assediou a irmã, ateou sete fogos no
concelho da Covilhã. Ajudou os bombeiros a encontrar o caminho mais rápido para
combater os incêndios e confessou a autoria à Judiciária da Guarda.
Um rapaz de 13 anos residente na freguesia de
Dominguizo, responsável por sete fogos que ocorreram no verão de 2013,
"estava sinalizado pela Comissão de Crianças e Jovens da Covilhã"
disse ao Expresso um responsável da Polícia Judiciária (PJ) da Guarda.
O adolescente terá agido por "motivações de
natureza pessoal, nomeadamente por sentimentos de revolta, pela perda recente
do pai, e de vingança sobre dois dos proprietários rurais atingidos" pelos
fogos, esclarece a Polícia Judiciária em comunicado. Ao Expresso, o responsável
da PJ da Guarda disse que "o rapaz sentiu muito a morte do pai"
ocorrida cerca de dois anos antes: "os pais já estariam separados na
altura em que o pai faleceu, mas o miúdo sentiu muito. Começou por negar a
autoria dos incêndios mas acabou por admitir que esteve envolvido em sete
deles, depois de ter sido feita uma busca à casa da família" e terem sido
encontrados materiais inflamáveis semelhantes aos encontrados nos locais dos
fogos, acrescentou o responsável da PJ da Guarda.
Os incêndios em questão "ocorreram nas freguesias
de Tortosendo, Telhado, Vales do Rio, Dominguizo, Paul e Barco", refere o
comunicado da PJ acrescentando que atingiram "várias centenas de hectares
de terrenos povoados por pinhal, olival, espécies frutícolas e mato, tendo,
inclusive, atingido e destruído várias instalações e maquinaria de natureza
agrícola, num prejuízo global imediato de várias centenas de milhar de
euros".
Num oitavo incêndio morreu um bombeiro
No dia 15 de agosto de 2013, um bombeiro de 40 anos
morreu quando combatia um incêndio que começou a lavrar pelas 12h52 na Coutada,
concelho da Covilhã. Um ano depois da tragédia o Departamento de Investigação
Criminal da Guarda, deu por "terminada uma investigação relativa à prática
de uma dúzia de incêndios florestais, ocorridos entre julho e setembro" de
2013 naquele concelho, imputando a autoria de sete deles ao rapaz de 13 anos.
O miúdo "não negou a autoria" do fogo em que
o bombeiro perdeu a vida "ao contrário do que fez com alguns dos 12 que foram
investigados", disse ao Expresso o elemento da PJ. "Mas também não
assumiu até porque fica muito perturbado com a questão da morte".
Permanece, pois, a incógnita sobre este oitavo incêndio porque a resposta do
jovem "não é concludente".
O comunicado da PJ diz que "o menor evidenciou
possuir também um sentimento de especial apreço e de grande admiração pelos
diversos profissionais habitualmente envolvidos no combate aos incêndios, tendo
auxiliado os mesmos, por moto próprio e em múltiplas situações, inclusive em
algumas das por si próprio provocadas".
A desorientação psicológica provocada pela perda do
pai, e o facto de ele "ter de certa forma assumido" o papel de
"defensor" da mãe e da irmã podem explicar o comportamento dele,
refere o elemento da PJ com quem o Expresso conversou. Reagiu contra o vizinho
que era proprietário de alguns terrenos arborizados depois deste ter
alegadamente ameaçado a mãe e assediado a irmã de 16 anos.
A Polícia Judiciária encerrou a investigação, informou
o Ministério Público sobre a "situação" e os próximos passos dependem
agora deste órgão de Estado. É provável que o processo venha a ser arquivado e
eventualmente o rapaz poderá vir a ser enviado para uma instituição de menores.
Ao certo sabe-se que "este verão houve muito menos
incêndios naquela zona", disse ao Expresso o elemento da PJ. E também se
sabe que o rapaz na altura dos factos já tinha sido referenciado pela proteção
de menores pouco tempo antes.
Fonte: Jornal Expresso
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